O Brasil e a China examinarão formas de diversificar exportações brasileiras para o mercado chinês também na área alimentar, durante a reunião da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (Cosban), nesta segunda-feira em Brasília, segundo fontes.
A expectativa é incrementar exportações de milho, carnes e outros produtos vegetais para o mercado chinês, num movimento que toma outra dimensão com a atual crise alimentar global e corrida de países para garantir seu abastecimento.
Além disso, o Brasil quer mais transparência sobre suspensão de unidades fabris autorizadas a exportar, que às vezes ocorre de maneira que não é clara. Pequim tem usado argumentos de que alguns frigoríficos teriam registrado casos de covid-19, para bloquear a entrada de carnes.
Com as múltiplas crises globais recentes, o Brasil se apresenta como uma “janela’’ para investimentos americanos e europeus em energia sustentável e na área alimentar. E o sentimento em círculos do governo é de que sobretudo nessas áreas a China tem condições de investir mais no país.
Antecedendo a reunião da Cosban, Karin Vazquez, pesquisadora da Universidade Fudan (Xangai) e professora da Jindal Global University (Índia), preparou um texto no qual avalia que as relações Brasil-China poderiam passar de uma “contestação” ideológica para uma “adaptação” pragmática sem necessariamente depender ou impedir as relações do Brasil com os Estados Unidos.
Ela examinou o grau de interação entre Brasil-China e Brasil-EUA, e fez algumas conclusões sobre o período 1995- 2020: primeiro, a de que as relações Brasil-China se intensificaram e diversificaram durante governos brasileiros de esquerda e direita, como visto na expansão da rede diplomática do Brasil na China, o crescimento do comércio e investimento bilateral e a convergência entre Brasil e China na governança global (como votos em resoluções de direitos humanos nas Nações Unidas).
Segundo, o comércio Brasil-China e Brasil-EUA evoluiu em direção semelhante durante quase todo o período; terceiro, apesar da complementaridade entre as economias chinesa e brasileira, o comércio entre os dois países pode reproduzir a dependência que historicamente marca as relações comerciais Brasil-EUA.
Para Karin Vazquez, a orientação política do governo brasileiro teve um papel menos determinante na abordagem da política externa do país em relação à China. Estima que interesses de diferentes segmentos da sociedade brasileira e as forças concorrentes dentro do governo são possivelmente ainda mais complexos e determinantes do futuro das relações entre os dois países.