Política

Quatro entre dez pacientes graves com Covid-19 na Prevent Senior morreram, diz relatório da secretaria municipal

Vigilância Sanitária da cidade de São Paulo apresentou dados à CPI da Câmara Municipal que investiga atuação da operadora na pandemia
Fachada do Hospital da Prevent Sênior em São Paulo Foto: Paulo Guereta / Photo Premium/Agência O Globo
Fachada do Hospital da Prevent Sênior em São Paulo Foto: Paulo Guereta / Photo Premium/Agência O Globo

SÃO PAULO — Cerca de 40% dos pacientes internados em estado grave com Covid-19 na rede da Prevent Senior em 2020 morreram, segundo dados apresentados nesta quinta-feira pela Covisa, órgão de Vigilância Sanitária vinculado à Secretaria Municipal de Saúde, à CPI da Prevent Senior, da Câmara Municipal de São Paulo. O número é maior do que os 22% citados pelo diretor da operadora, Pedro Batista, em depoimento à CPI da Covid, do Senado Federal.

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De acordo com Luiz Artur Vieira Caldeira, coordenador da Covisa, a Prevent Senior notificou 7.705 casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) em 2020, entre os quais 5.431 foram provocadas pela Covid-19. Deste total, 2.210 morreram, uma taxa de mortalidade de aproximadamente 40%. Em 2021, o percentual caiu para 35,16%. Os números fazem parte do sistema Sivep-Gripe, banco de dados oficial de Síndrome Respiratória Aguda Grave.

Na CPI do Senado, Batista deu números diferentes dos apresentados por Caldeira, que dariam uma taxa de 22% de mortos internados:

— Foram mais de 55 mil pacientes positivos para covid, com média de idade de 68 anos; 18 mil deles foram internados; e cerca de 4 mil vieram a óbito — disse o diretor da Prevent Senior.

A SRAG tem, segundo Caldeira, uma letalidade média de 35%. O percentual é um número, não considera a pandemia da Covid-19 e nem a situação específica do município de São Paulo.

O presidente da CPI, vereador Antonio Donato (PT), afirmou ao final da sessão que os números apresentados pela Covisa causaram "espanto" pela "alta taxa de mortalidade nos hospitais da Prevent".

— É uma linha de investigação da CPI que começa a andar — afirmou o petista.

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O representante da Covisa também disse em depoimento à CPI que solicitou à Secretaria Estadual de Saúde intervenção temporária nos hospitais da Prevent Senior que estavam descumprindo as normas sanitárias na pandemia da Covid-19. O documento, enviado no dia 27 de março de 2020 ao órgão, até hoje não teve resposta.

O pedido de intervenção foi elaborado após duas inspeções da Covisa em hospitais da operadora de saúde. A primeira inspeção, realizada no dia 18 de março do ano passado, verificou uma série de irregularidades, tais como: atraso na notificação de casos e óbitos suspeitos e confirmados de Covid-19; concentração de casos suspeitos de toda a rede Prevent na unidade Paraíso, o que ocasionou o aumento súbito de demanda e superlotação; ausência da realização de exames para pesquisa de influenza; ausência de notificação de suspeita de surto de infecção por Covid-19 intra-hospitalar; quantidade insuficiente de kit para confirmação de casos de coronavírus; além da internação, no mesmo ambiente, de pacientes com sintomas parecidos, mas que não tinham qualquer confirmação da doença.

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Após verificar o descumprimento das normas sanitárias e as falhas no processo de prevenção e controle de infecção da doença, a Covisa abriu um processo administrativo sanitário e autuou a empresa. Foram feitas uma série de orientações técnicas, e a própria Prevent Senior se comprometeu a fazer as adequações.

No dia 23 de março, a Covisa fez uma nova inspeção, onde continuou verificando irregularidades. Uma delas, relatadas por Caldeira, foi o não preenchimento de parte dos relatórios de óbito redigidos pela empresa. Depois disso, foi encaminhado à secretaria estadual de saúde um ofício pedindo providências:

— Solicitamos a intervenção temporária no Sancta Maggiore, unidades Paraíso, Pinheiros e Paulista até que a instituição cumpra as normas do código sanitário vigente. Junto com a notificação, foi encaminhado uma cópia do relatório completo da inspeção — disse Caldeira.

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Até hoje, segundo ele, não houve uma resposta oficial por parte do Estado. A única medida que a Covisa teve conhecimento foi a realização de uma inspeção do estado, mas cujo resultado não foi comunicado.

Em nota, a Prevent Senior informou que entre os 55 mil casos confirmados na rede da operadora, a taxa de mortalidade é de cerca de 7%, segundo eles inferior às médias observadas em relação ao Estado. De acordo com a operadora, para os casos de pacientes internados em UTI, o único estudo que permite comparações foi publicado na Revista Brasileira de Geriatria, em julho de 2020:

"Ao analisar dados de hospitais do Estado (públicos e privados, com dados até o final de maio de 2020), mostra que a taxa de mortes entre internados nas UTIs dos hospitais da Prevent Senior foi de 40% contra 72% observado na média estadual. É importante, ainda, analisar os óbitos por faixa etária, tendo-se em vista a maior vulnerabilidade entre pacientes mais idosos. Todos os dados estão à disposição da CPI municipal."

Próximos passos

Ao final da primeira sessão da CPI, os vereadores aprovaram uma requerimento solicitando o comparecimento de um representante da secretaria estadual de saúde para explicar sobre a ausência de uma resposta à Covisa. Na próxima quinta, a comissão recebe Jorge Venâncio, do Comissão Nacional de Ética em Pesquisa, e a advogada Bruna Morato, que representou 12 médicos na CPI do Senado.

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Entre os nomes chamados para comparecer à comissão nas próximas semanas estão Tadeu Frederico de Andrade, paciente da prevent que depôs à CPI do Senado; Irene Abramovich, presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo; e Mauro Luiz de Britto Ribeiro, presidente do Conselho Federal de Medicina.

Também nesta quinta-feira, a força tarefa do Ministério Público Estadual ouviu duas pessoas, um paciente e um familiar de paciente do plano de saúde. Não haverá depoimentos nesta sexta-feira.

Segundo o portal G1, um dos ouvidos foi o advogado Tadeu de Andrade, de 65 anos, que já havia prestado depoimento na CPI da Covid, do Senado, e afirmou ter passado mal após ingerir os medicamentos do "kit Covid" distribuído pela Prevent. A investigação do MP é criminal e quer estabelecer relação entre a morte de pacientes, ou danos à saude, causados por remédios prescritos a vítimas de Covid-19 sem estudos que comprovassem a eficiência.