Economia

Teto de gastos é âncora da política fiscal, mas precisa ser reforçado, diz Arminio Fraga

Ex-presidente do Banco Central afirmou que reformas precisam avançar
Fraga: teto de gastos é âncora fiscal, mas precisa de reforço Foto: Reprodução
Fraga: teto de gastos é âncora fiscal, mas precisa de reforço Foto: Reprodução

SÃO PAULO — O teto de gastos é a principal âncora fiscal do país, mas se torna insuficiente se não for reforçado. Isso por que a dívida pública vai continuar crescendo, mesmo que o teto seja obedecido.

A avaliação é do ex-presidente do banco Central e fundador da Gávea Investimentos, Arminio Fraga, que participou do painel a Política Econômica de 2021 em Diante, no evento Brasil 2021 em Debate, realizado pela XP Investimentos.

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— O teto sozinho não aguenta. O governo vai ter que aprovar reformas, mas vejo o Congresso mais reativo do que ativo neste momento. É um instinto de sobrevivência e não é o ideal. É preciso reforçar o lado fiscal - disse Fraga durante debate com o CEO do banco XP, José Berenguer, e o chairman do Comitê Global de Alocação da XP, Paulo Leme.

O economista não comentou a versão preliminar da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que autoriza medidas de ajuste fiscal, prevendo que o uso de receitas desvinculadas de fundos públicos fiquem temporariamente fora do teto de gastos.

O texto abre caminho para que o dinheiro dos fundos seja usado em gastos como programas sociais contra a pobreza, por exemplo. As despesas seriam excluídas da trava fiscal por um ano.

Para ele, a resposta do governo à Covid-19 foi enorme, mas veio com custo de aumento da dívida e vulnerabilidade.

O ex-presidente do BC lembrou que é preciso atacar as desigualdades do país, não só a econômica, que tornam o Brasil um terreno fértil para o populismo. Mas Arminio defendeu que os brasileiros precisam voltar a acreditar que têm uma chance.

Segundo ele, uma rede de política social é essencial, mas que o país precisa ir além disso.

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— Mas vejo o ambiente político difícil no curto prazo. Vejo inconsistências no quadro de agenda, de visão do mundo nas lideranças do governo. Algumas têm cabeça mais liberal, outras não. Por isso, vejo o Brasil se defendendo: ou seja, algumas reformas acontecem, mas o caminho será difícil até 2022 - explicou.

Arminio lembrou que existem duas grandes reformas necessárias - a tributária e a do Estado, mas também precisa de reformas para melhorar a competitividade da economia brasileira.

—Precisamos da desburocratização de pequenos aspectos da vida produtiva - afirmou.

Arminio afirmou que o país sempre se beneficia dos momentos de abundância de capital no mundo, mas fica vulnerável quando esse cenário se reverte, devido às suas questões internas.

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— Temos questões de natureza fundamental que são maiores que os ventos que sopram de fora. A questão fiscal, a necessidade de ganho de produtividade e as incertezas jurídicas. Hoje, a infraestrutura é barreira ao crescimento, quando deveria ser a locomotiva.

As preocupações são mais internas do que externas. O país se beneficia dos momentos de abundância de capital, mas fica vulnerável quando esse quadro se reverte. E já estamos no segundo tempo da partida — concluiu.