Economia
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A alta dos preços de alimentos virou foco de preocupação do governo federal, em razão do potencial de desgaste que pode trazer para a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ao longo da semana, o assunto foi tema de uma série de reuniões realizadas no Palácio do Planalto, e o Executivo prepara medidas para incentivar o aumento na produção e, consequentemente, aliviar o bolso dos consumidores.

Na semana passada, pesquisa feita pela Quaest mostrou que, para 38% da população, a economia piorou nos últimos 12 meses, um aumento de sete pontos percentuais em relação ao levantamento anterior, de dezembro de 2023. Além disso, 73% apontaram alta no preço dos alimentos.

Em conversas internas, Lula costuma dizer que a economia é a grande arma na tentativa de angariar mais popularidade e conquistar a simpatia de uma parcela da população que não votou nele em 2022. Caso haja escalada nos preços, a avaliação no Palácio do Planalto é que o impacto na imagem de Lula será ainda maior.

Ontem, o presidente recebeu um diagnóstico do problema em um encontro com as participações dos ministros Fernando Haddad (Fazenda), Rui Costa (Casa Civil), Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário) e Carlos Fávaro (Agricultura), além do presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Edegar Pretto.

‘Forma de inverter o jogo’

Ao fim da reunião, ministros disseram que o governo federal espera que o preço dos alimentos recue a partir de abril. Fávaro afirmou que o governo já identificou uma queda em torno de 20% no preço da saca de arroz e espera que isso seja transferido ao consumidor na mesma proporção:

Alimentos sobem mais que a inflação no início de 2024 — Foto: Editoria de Arte
Alimentos sobem mais que a inflação no início de 2024 — Foto: Editoria de Arte

— No fim do ano passado teve um aumento do preço do arroz no supermercado. O fato é que estamos com a colheita em torno de 10% no Rio Grande do Sul, e os preços das sacas já desceram de R$ 120 para R$ 100. Esperamos que se transfira essa baixa dos preços, e os atacadistas reduzam também nos mercados.

Os preços dos alimentos consumidos nos domicílios vêm subindo acima da inflação desde outubro do ano passado. Em janeiro e fevereiro, a alta chega a 2,95% — ou seja, mais que o dobro do 1,25% do IPCA, índice oficial de inflação, deste ano. Ao divulgar o IPCA, na última terça-feira, o IBGE explicou que os valores têm sido impactados pelo clima desde o fim do ano passado.

— Para a sociedade estar feliz com o governo, é preciso que a economia e o salário estejam crescendo, e o preço da comida esteja baixando — disse Lula na segunda-feira, em entrevista ao SBT.

Para Luís Otávio Leal, economista-chefe da gestora de investimentos G5 Partners, a inflação dos alimentos tem algum efeito sobre a queda na popularidade do governo. Mas o noticiário negativo das últimas semanas — fuga de presos de penitenciária federal em Mossoró (RN), tensões nas relações com Israel e efeitos negativos sobre as ações de Petrobras e Vale por causa da interferência política —, diz, parece ter pesado mais.

Por isso, a adoção de medidas para tentar conter a inflação de alimentos poderá surtir efeito positivo na popularidade, já que o governo poderá colher os louros mesmo que os preços caiam ou arrefeçam por conta da sazonalidade típica — como todos os anos, alívios nos preços de alimentos são esperados de abril em diante.

— O governo pode anunciar que vai fazer isso ou aquilo porque, sazonalmente, os preços já iam cair, e parece que foi obra do governo. É uma forma de inverter o jogo, deixar de ser pautado por notícias ruins — afirmou Leal.

O economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, também cita a polarização política e recentes declarações de Lula como fatores para a queda da popularidade:

— A inflação deverá ser mais baixa em 2024 do que foi em 2023. Não vai ser espetacular o crescimento, mas o emprego vai bem.

Na campanha em que derrotou o então presidente Jair Bolsonaro, Lula usou como um dos elementos para tentar desgastar o adversário o preço dos alimentos, como churrasco e cerveja. Lula dizia que os brasileiros “voltariam a comer picanha”, enquanto Bolsonaro retrucava afirmando que o valor pago na época pelo Auxílio Brasil, que voltou a se chamar Bolsa Família, comprava mais picanha do que nas gestões petistas.

Em razão desse retrospecto, a questão se tornou central para Lula nos últimos dias. Na segunda-feira, o presidente fez uma primeira reunião sobre o tema com Fávaro e Pretto. Orientado pelo presidente, o ministro da Agricultura teve um encontro com a Casa Civil para definir como fazer um diagnóstico dos motivos que levaram à alta de preços.

Foco na produção

Ontem, na reunião no Planalto, Lula recebeu dos ministros um plano de ação para tentar solucionar o problema rapidamente. As altas são atribuídas pelos ministros a fatores climáticos, como as altas temperaturas no Centro-Oeste e as enchentes no Sul. Uma das ideias é que o Plano Safra dê incentivo à produção de alimentos, como trigo, milho, mandioca e feijão. Outra é estimular que a produção de arroz, muito concentrada no Sul, se expanda para o Centro-Oeste e o Nordeste. Isso reduziria os custos com transporte.

— Teremos estratégia para direcionar o crescimento da produção de arroz, feijão, trigo, e estamos atentos a essas medidas estruturantes. Se os preços não baixarem, podemos tomar outras medidas governamentais que serão estudadas pela equipe econômica — afirmou Fávaro.

O presidente da Conab disse que o órgão vai garantir renda aos produtores que decidirem cultivar arroz, feijão, mandioca e hortaliças. Como mostrou O GLOBO no início do mês, Lula prepara uma série de iniciativas para se aproximar do agronegócio, setor próximo a Bolsonaro. A ofensiva prevê lançamento de obras, mais crédito e viagens a locais onde a produção agrícola tem peso expressivo na economia.

Na avaliação de Leal, da G5 Partners, medidas como usar estoques da Conab ou facilitar a importação de alimentos que estejam com problemas de safra podem surtir algum efeito e são “de mercado”, com baixo custo para os cofres públicos.

São diferentes, portanto, de medidas como o controle de preços de combustíveis pela Petrobras ou o adiamento de reajustes da conta de luz e dos transportes públicos, adotadas no governo Dilma Rousseff, que provocaram desequilíbrios posteriores.

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