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Economia Energia

Governo deve restringir navegação em hidrovias e uso de água para irrigação para evitar racionamento de energia

Cinco estados da Bacia do Paraná receberam alerta de emergência hídrica. Foi criada uma "sala de situação" para acompanhar o quadro de escassez de chuvas
Governo preparar leilão extra para termelétricas para afastar risco de racionamento de energia Foto: Custódio Coimbra / Agência O Globo
Governo preparar leilão extra para termelétricas para afastar risco de racionamento de energia Foto: Custódio Coimbra / Agência O Globo

BRASÍLIA — A seca na região das principais hidrelétricas do país acendeu o sinal de alerta no governo, que prepara uma série de medidas para garantir que não falte eletricidade neste ano e afastar o risco de racionamento de energia. As iniciativas a serem adotadas ainda estão em estudo, mas uma das ações deverá ser restringir a navegação por hidrovias e o uso de água para irrigação, para priorizar a geração de energia.

O Executivo federal decidiu criar uma “sala de situação” para acompanhar o suprimento de energia elétrica e discutir medidas com diferentes órgãos.

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A intensidade da seca levou o Sistema Nacional de Meteorologia a emitir, na quinta-feira, um alerta de emergência hídrica para cinco estados que estão na região da Bacia do Paraná: Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná.

Técnicos do governo evitam chamar o grupo criado para monitorar a situação de “comitê de crise”, mas diversos ministérios fazem parte da “sala de situação”. Além do Ministério de Minas e Energia (MME), Agricultura, Infraestrutura, Economia, as agências de energia (Aneel) e de águas (ANA) compõem o grupo, coordenado pela Casa Civil da Presidência da República.

Há uma preocupação no governo com o fornecimento deste ano, mas também com o de 2022. O objetivo é garantir a presença de água nos reservatórios — especialmente em um ano de eleições presidenciais. Os técnicos estão olhando com lupa a disponibilidade de termelétricas e linhas de transmissão.

Uma questão que precisa ser resolvida, por exemplo, é o aproveitamento maior de usinas eólicas do Nordeste para outras regiões.

O governo descarta, no momento, a possibilidade de racionamento de energia, mas integrantes do MME dizem estar preparados para o “pior cenário”, que seria a restrição da disponibilidade de energia — nacionalmente ou por regiões.

O ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, quer fazer um acompanhamento rigoroso da situação, para evitar ser surpreendido no futuro.

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Ajuda de Técnicos de 2001

O principal objetivo da “sala de situação” envolvendo diversos órgãos é tomar medidas conjuntas para garantir que chegue água às hidrelétricas e que essa água seja usada para gerar energia. Um problema que se tornou comum no setor elétrico é o uso múltiplo da água, que acaba reduzindo a eficiência das hidrelétricas.

Quando o nível dos reservatórios está bom, isso não é um entrave, porque é possível dividir o uso da água. Agora, porém, os reservatórios estão baixos e não há perspectiva de chuvas abundantes nos próximos meses, o que gera risco de faltar água no auge do período seco, no segundo semestre.

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Por isso, duas medidas que devem ser tomadas no médio prazo são a suspensão de navegação por hidrovias e a suspensão do uso da água para irrigação. O governo pretende com isso armazenar água nos reservatórios para usar nos momentos de pico da demanda.

Integrantes do MME chamaram os gestores do setor elétrico em 2001 (quando houve um racionamento) e de 2014 (período seco histórico) para conversar sobre medidas que podem ser tomadas. O ministro Bento Albuquerque também está conversando com integrantes do governo, do Judiciário e do Congresso para alertar sobre a situação.

O governo já tinha intensificado o uso de termelétricas para atender à demanda desde o início do ano. Todas as usinas que fazem parte do sistema podem ser acionadas , e o MME prepara um leilão para contratar mais unidades geradoras, como O GLOBO antecipou. Um decreto editado ontem permite a realização do certame.

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As medidas tomadas são no sentido de garantir que haja disponibilidade de água especialmente em setembro, outubro e novembro, antes do início do período úmido. Há um limite para a geração por termelétricas, dada a capacidade instalada do país. Por isso, garantir água no reservatório é uma maneira de manter a segurança da operação.

Bacia do Rio Paraná

Nesta quinta-feira, o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) se reuniu em caráter extraordinário, para avaliar as condições de suprimento energético ao Sistema Interligado Nacional (SIN).

A principal preocupação é com a situação hidrológica crítica atualmente vivenciada na Bacia do Rio Paraná, que engloba as bacias dos rios Paranaíba, Grande, Tietê e Paranapanema.

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Nessas bacias estão localizadas as usinas hidrelétricas com os principais reservatórios de regularização do SIN, cujos recursos são operados de maneira que, nos períodos secos, seus estoques possam ser utilizados de forma otimizada e com vistas a garantir o devido atendimento à carga.

Para o presidente da consultoria PSR e ex-presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Luiz Augusto Barroso, é importante o governo demostrar preocupação e preparar medidas.

— A declaração do CMSE foi correta para dar ciência a todos de uma verdadeira preocupação do governo e do setor, para então iniciar as medidas necessárias , que serão fundamentais para garantir a segurança do suprimento energético neste ano — disse Barroso.