Europa e EUA aumentam investimentos no combate à crise energética e às fortes ondas de calor

Jade Stoppa Pires

Autor

Jade Stoppa Pires

Publicado

21/Jul/2022 18:40 BRT

A crise energética enfrentada no mundo todo, desencadeada pela invasão da Rússia à Ucrânia, foi agravada nas últimas semanas nos países do hemisfério Norte, que passam por uma forte onda de calor, e tem motivado novas medidas de segurança energética e combate às mudanças climáticas.

Na Alemanha, o principal gasoduto que abastece a região voltou a operar, mas a oferta reprimida pela guerra não tem previsão de melhora. Na Suíça, a situação de abastecimento de energia também preocupa o governo, que está tomando medidas para assegurar o fornecimento, já de olho nos meses de inverno, quando o uso de gás e energia para aquecimento aumenta a demanda.

Outras medidas anunciadas incluem a construção de uma rede de transmissão de energia que vai conectar a Alemanha ao Reino Unido e deve ajudar no escoamento das eólicas offshore no Mar do Norte.

Nos Estados Unidos, apesar do país não depender dos combustíveis da Rússia, a onda de calor tem motivado investimentos adicionais do governo em infraestrutura e novas tecnologias, como eólica offshore.

Volta da Nord Stream 1

Após fechamento programado do sistema de transmissão de gás para manutenção, o gasoduto Nord Stream 1 voltou a enviar 67 milhões de m³ de gás por dia para a Alemanha. Entretanto, segundo Karolina Siemieniuk, analista de Gás Natural e Gás Natural Liquefeito (GNL) da consultoria Rystad Energy, a situação na Europa não tem previsão de melhora e deve continuar impactando os preços dos combustíveis e o mercado de gás ao redor do mundo.

Para Siemieniuk, ainda que a russa Gazprom mantenha os fluxos de gás estáveis, os países europeus correm o risco de desabastecimento para o próximo inverno, sobretudo por conta das recentes ondas de calor em diversos países da região, que demandam acionamento de sistemas de resfriamento, e da atual depreciação monetária decorrente do status de importadores de energia e pressão do mercado.

“A totalidade do sistema energético europeu está passando por uma crise, e mesmo com a reativação do Nord Stream 1, a região está em uma posição delicada com o risco continuado a sua segurança energética”, afirmou Siemieniuk. “Os países europeus deverão trabalhar em conjunto e de forma rápida se eles querem sobreviver ao inverno relativamente sem danos – e mesmo se isso acontecer, a expectativa para o próximo inverno em 2023/2024 é de alta nos preços por vários meses”.

Conectando a Europa

O Banco Europeu de Investimento (BEI), participante de um consórcio de mais de 20 bancos internacionais, fará um aporte de € 400 milhões na construção de uma rede de transmissão de energia conectando a Alemanha e o Reino Unido. O projeto, esperado para entrar em operação em 2028, demandará investimentos na ordem de € 2,8 bilhões. O projeto consiste em uma rede de transmissão 525 kV com capacidade de 1.400 MW que passará entre águas alemãs, holandesas e britânicas. Com o objetivo de facilitar o comércio de energia entre a União Europeia e o Reino Unido e contribuir com a maior integração de renováveis pelo Mar do Norte, o projeto também deve melhorar os usos da capacidade eólica offshore da região.


“Esse projeto é inovador para a transição energética, pois ele possibilita usar a energia eólica offshore de forma mais eficiente. O comércio de eletricidade transfronteiriço pode ajudar a redirecionar a energia para onde ela é mais necessária e pode, portanto, contribuir com a integração das renováveis e com a estabilidade do suprimento de energia”, afirmou Ambroise Fayolle, vice-presidente do BEI.

Crise e tensões na Europa

De acordo com o chefe do Departamento Federal de Energia da Suíça, Benoît Revaz, o país pode vir a sofrer com a falta de energia durante o próximo inverno, mesmo com os esforços governamentais para garantir fornecimento e abastecimento de energia na região. “Estamos assistindo a primeira crise energética global, com a Europa no centro”, afirmou Revaz. Como forma de endereçar esta crise, o governo estipulou uma série de medidas, além de pedir a redução do consumo de energia para a população.


O governo suíço também fez projeções para lidar com a possível restrição ao gás russo, planejando acordos internacionais com países como Alemanha, França e Itália para o fornecimento de gás e construção de usinas eólicas e hidrelétricas adicionais no país.

EUA, ondas de calor e eólica offshore

O presidente Joe Biden, dos Estados Unidos, anunciou novas medidas para lidar com as ondas extremas de calor no país e impulsionar a energia eólica offshore nesta quarta-feira, 20 de julho. Segundo declaração oficial, Biden anunciará medidas adicionais nas próximas semanas.

Com relação às ondas de calor, a Agência Federal de Gestão de Emergências (Fema, na sigla em inglês) anunciou um fundo de US$ 2,3 bilhões para o programa de resiliência e infraestrutura do ano fiscal de 2022. Esse dinheiro será direcionado a ações relacionadas às ondas de calor, incêndios florestais, secas, enchentes e outros desastres naturais. Além disso, o governo também diminuirá os custos de refrigeração para comunidades sofrendo com o calor extremo.

Já no setor de eólica offshore, o Departamento de Interior dos EUA vai propor as primeiras Áreas de Energia Eólica no Golfo do México, visando expandir as oportunidades da fonte eólica offshore na região. Biden também lançou recentemente a Parceria Federal-Estadual para Implementação de Eólica Offshore, com o objetivo de integrar as governanças no desenvolvimento desta fonte de energia.