Por g1 SP — São Paulo


Vídeos mostram crianças amarradas em banheiro de escola infantil na Zona Leste de SP

Vídeos mostram crianças amarradas em banheiro de escola infantil na Zona Leste de SP

Suspeita de constrangimento, risco, negligência. Crianças marradas e imobilizadas com lençóis, trancadas no banheiro para abafar o choro, sentadas embaixo da pia, ao lado de vasos sanitários, hematomas pelo corpo, água gelada jogada no rosto — há, ainda, histórico de morte de um bebê de três meses há alguns anos. Os relatos de mães cujos filhos estavam matriculados na escola infantil Colmeia Mágica, na Zona Leste de São Paulo, assustam.

As denúncias de maus-tratos e tortura surgiram no começo da semana, quando vídeos de crianças presas com lençóis, no que lembravam "camisas de forças", viralizaram nas redes sociais e fizeram a Polícia Civil abrir uma investigação.

Abaixo, veja perguntas e respostas para entender o que se sabe e o que falta esclarecer sobre o caso:

O que acontecia na escola, segundo as denúncias?

Vídeos que circulam nas redes sociais mostram pelo menos quatro crianças chorando amarradas, com os braços presos por panos, como se estivessem imobilizadas por "camisas de força". Segundo o relato de professoras, elas eram orientadas pela diretora a amarrar as crianças em um banheiro para evitar que elas chorassem em sala de aula. Mães ouvidas pela investigação disseram que seus filhos voltavam para casa feridos e doentes. Outra mãe contou que o filho de 2 anos voltava chorando para casa depois de ficar na escola e que ouviu de uma professora que "a diretora jogou um copo de água gelada na cara dele [do seu filho] e mandou ele acordar para a vida."

Onde a escola fica?

A escola infantil Colmeia Mágica, na Vila Formosa, na Zona Leste de São Paulo.

Tinta escura cobriu pichações sobre portões da Colmeia Mágica — Foto: Kleber Tomaz/g1

Há quanto tempo a escola existe e qual era a situação do local?

Fundada em 2000, a escola está aberta há 22 anos, mas somente em 2016 a Secretaria Municipal de Educação (SME) deu autorização para o funcionamento. Isto é, funcionou por 16 anos de forma irregular.

Pela lei, as creches e escolas particulares de educação infantil são de responsabilidade do município e precisam de autorização da pasta para funcionar. À Prefeitura cabe também a fiscalização desses estabelecimentos.

Qual faixa etária a escola atendia?

Bebês e crianças de 0 a 5 anos, do berçário ao ensino infantil.

Qual é o valor médio da mensalidade da escola?

Ao g1, algumas mães disseram que pagavam mensalidades que custavam, em média, R$ 800.

Quem são os donos?

A escola tem como sócias Roberta Regina Rossi Serme, de 40 anos, e a irmã, Fernanda Carolina Rossi Serme, de 38 anos.

Como e quando surgiram as primeiras denúncias?

Há pelo menos duas semanas, quando vídeos que mostram pelo menos quatro crianças chorando amarradas, com os braços presos por panos, como se estivessem imobilizadas por "camisas de força", começaram a circular em redes sociais. Ainda não se sabe quem fez as filmagens. Mas há relatos de suspeita de agressão anos antes.

Novo vídeo mostra crianças imobilizadas em escola na zona leste

Novo vídeo mostra crianças imobilizadas em escola na zona leste

O que está sendo investigado?

A escola passou a ser alvo de um inquérito policial aberto na Central Especializada de Repressão a Crimes e Ocorrências Diversas (Cerco) da 8ª Delegacia Seccional da cidade de São Paulo. Além do crime de maus-tratos, a delegacia investiga a unidade escolar por suspeita de periclitação da vida e da saúde, que seria colocar a vida das crianças em risco, e submissão de crianças a vexame ou constrangimento.

As donas da escolinha são investigadas na esfera criminal pela Polícia Civil por suspeita de crimes, como:

  • Maus-tratos;
  • Periclitação de vida, que é colocar a saúde das crianças em risco;
  • Submissão de crianças a constrangimento ou situação vexatória;
  • Tortura.

Em 2010, uma bebê de três meses morreu no berçário, e, em 2014, uma mãe acusou a diretora de agredir seu filho de dois anos.

Quem está investigando?

A Polícia Civil já abriu uma investigação e a Prefeitura de São Paulo informou que a Secretaria Municipal da Educação também passou a apurar o caso. A Secretaria Municipal de Direitos Humanos acionou a Ouvidoria de Direitos Humanos e deve comunicar também o Conselho Tutelar.

A investigação ainda não foi concluída. Mas as donas podem ser responsabilizadas futuramente (indiciadas) pelos crimes listados acima. A pena para esses crimes somados pode resultar em prisão, caso sejam condenadas na Justiça.

Sobre as professoras, elas estão sendo ouvidas pela Polícia Civil, até este momento, como testemunhas.

Alguma coisa já foi recolhida pela investigação?

A Justiça autorizou que policiais fossem recolher lençóis que poderiam ter sido usados para prender as crianças. O celular da diretora da Colmeia Mágica também foi apreendido para análise.

Em uma nova busca e apreensão, ainda no mês de março, foram recolhidas cadeirinhas de bebês.

O que aconteceu com a escola?

Após os vídeos começarem a circular, pais tiraram as crianças da escola que, em seguida, anunciou a suspensão das aulas. Os portões da Colmeia Mágica foram pichados com mensagens como "crime", "neonasistas [sic]", "desumano", "mals-tratos [sic]", "Justiça", "lixo", "demônio", "Deus ta vendo [sic]". Depois, a frente da escola foi coberta com tinta escura.

O que dizem os acusados?

Ao SP2, o advogado André Dias, que representa a escola, confirmou que as crianças que aparecem nas imagens são alunos da Colmeia Mágica, mas afirmou que a investigação vai demonstrar que a gravação é uma montagem para prejudicar a escola e as proprietárias.

Em nota, as donas da escola disseram que as acusações são "incabíveis, inverídicas e aterrorizantes" e que "mais do que ninguém a instituição quer saber o propósito dessas acusações incabíveis, inverídicas e aterrorizantes em que foram expostas". Leia a nota na íntegra.

O que dizem as professoras?

Duas professoras que trabalhavam na escola disseram ao g1 que eram orientadas pela diretora a amarrar as crianças em um banheiro para evitar que elas chorassem em sala de aula.

Uma outra professora que trabalhou na escola infantil entre julho e dezembro de 2021, afirmou que assim que começou a trabalhar no local, a própria diretora relatou que costumava "embalar" os bebês para que eles dormissem melhor.

A professora também relatou que com o passar do tempo, além de amarrar os bebês, a diretora também levava eles para o banheiro, apagava a luz e fechava a porta do local. "Ela vinha com a desculpa de que era para evitar que as pessoas da rua ouvissem os choros porque poderiam interpretar isso da maneira errada".

Alguém foi preso?

Até o momento ninguém foi responsabilizado. A diretora é investigada por suspeita de maus-tratos; por colocar a saúde das crianças em risco; submissão de crianças a constrangimento ou situação vexatória; tortura.

No dia 22 de março, a Justiça decretou a prisão temporária da diretora a pedido da polícia. Desde então, Roberta Regina Rossi Serme, de 40 anos, é considerada foragida. Policiais realizam buscas nos endereços para tentar encontra-la.

A diretora, alguns professores e funcionários da Colmeia Mágica já prestaram depoimentos na polícia. Pais de alunos também foram chamados pelos agentes para prestarem esclarecimentos na delegacia.

Há outras denúncias envolvendo a escola?

Uma criança morreu em 2010 após sofrer parada cardiorrespiratória dentro da escola. Heloisa Vitoria Teodoro tinha pouco mais de 3 meses de vida em 7 de maio de 2010, quando teria parado de respirar no berçário. A diretora da escolinha socorreu a menina, a levando de carro até o Hospital São Luiz, no Tatuapé, onde a morte da bebê foi constatada.

A menina já teria chegado morta ao local. Na época, o caso foi registrado como "morte suspeita". Segundo a cabeleireira Isabel Cristina Gardão da Silva, mãe de Helísa, o laudo necroscópico apontou que a causa da morte de sua filha foi "asfixia mecânica por agente físico". Ainda de acordo com a mãe de Heloísa, mesmo diante da suspeita de que a menina teria sido asfixiada, a polícia não investigou isso e decidiu arquivar o inquérito que apurava a morte dela. A mãe também disse que a alegação que ouviu dos policiais à época foi de que o arquivamento ocorreu "por falta de provas".

Há ainda um registro de boletim de ocorrência, de 2014, que uma mãe registrou após o filho aparecer com um arranhão e apontar a diretora como responsável.

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