Por Paula Paiva Paulo, g1 SP


Cantora Tiê faz show para mulheres vítimas de violência doméstica em São Paulo

Cantora Tiê faz show para mulheres vítimas de violência doméstica em São Paulo

No palco de um teatro na Zona Leste de São Paulo, a cantora Tiê cantava acompanhada apenas do seu violão para uma plateia especial. Nela, estavam mulheres que nos últimos meses enfrentaram o oposto do que aquela tarde de alegria e acolhimento proporcionava.

Nesta quarta-feira (15), Tiê fez um show na Fábrica de Cultura Parque Belém para mulheres vítimas de violência doméstica que são assistidas pela Prefeitura de São Paulo. Algumas delas moram hoje em abrigos sigilosos - locais que não têm o endereço divulgado, já que suas residentes são ameaçadas de morte ou têm medida protetiva. Por segurança, elas pouco saem do abrigo, muito menos participam de eventos culturais.

A dona de casa Silvia Pereira dos Santos, de 52 anos, é uma das que estavam na plateia. Há um ano e 10 meses ela conseguiu se separar do marido, sair da situação de violência doméstica em que vivia, e hoje faz acompanhamento em um Centro de Cidadania da Mulher (CCM).

"Achei maravilhoso, as músicas tocam no coração da gente", disse. Para Silvia, um momento especial foi quando a cantora, numa interação com as mulheres à sua volta, questionou:  "A culpa é sempre nossa, né? A gente vive com isso, que alguma coisa a gente fez para estar naquela situação".

Silvia concordou. "A gente nasce com a culpa, morre com a culpa, e eles nunca são os culpados. A gente que foi o motivo de uma briga, de uma provocação. Mas a gente está em casa lavando, passando e cozinhando e eles chegam com o motivo da briga. Tem muitas mulheres que nem abrem a boca, e mesmo assim são agredidas".

Tiê faz show para mulheres vítimas de violência doméstica na Zona Leste. 'A música tem esse lugar de colo', disse a cantora. — Foto: Celso Tavares/g1

Para Tiê, o show, que ela fez sem receber cachê, foi uma oportunidade de exercer a sororidade - união e aliança entre as mulheres - na prática.

"O meu tipo de letra, a minha voz, que é uma voz doce, querendo ou não ela funciona como um abraço quentinho, então a música tem esse lugar de colo", disse a cantora.

No final do show, uma fila de mulheres se formou para registrar o encontro com a cantora. A sessão de selfies e os risos foram um alento para muitas das mulheres. "Fico muito feliz de estar aqui, com todas essas mulheres, e saio daqui fortalecida", disse Tiê.

Mulher vítima de violência doméstica assiste a show da cantora Tiê na Fábrica de Cultura Parque Belém — Foto: Celso Tavares/g1

A iniciativa foi uma parceria da Prefeitura de São Paulo com o Governo do Estado. Presente na plateia, a secretária municipal de Direitos Humanos, Claudia Carletto, disse que o objetivo do show foi levar para estas mulheres um "carinho de Natal".

"É uma forma de mostrar para elas também que esses equipamentos onde elas costumam ficar, longe de casa, longe dos seus pertences, longe de todo um histórico que elas construíram na vida delas, que elas também são acolhidas", afirmou a secretária.

Mulheres vítimas de violência doméstica assistem a show da cantora Tiê na Fábrica de Cultura Parque Belém — Foto: Celso Tavares/g1

A dona de casa Silvia dos Santos hoje incentiva outras mulheres a também procurarem os serviços de apoio da Prefeitura e de outras instituições.

"É muito gostoso conversar com as pessoas que passaram pelo mesmo processo que você. Elas te entendem. As outras pessoas, de fora, te julgam. E as de dentro não, elas sabem o sofrimento que eu passei e elas estão passando, então é uma dando força para a outra", disse Silvia.

Números e rede de apoio

Em média cerca de 600 mulheres são vítimas de violência doméstica por dia no Brasil, de acordo com dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. No ano passado, uma em cada quatro mulheres acima de 16 anos afirma ter sofrido algum tipo de violência durante a pandemia de Covid, segundo pesquisa do Instituto Datafolha encomendada pelo Fórum.

A rede de proteção às mulheres vítimas de violência da secretaria de Direitos Humanos atendeu, neste ano, 35 mil mulheres. Em 2020, foram 24 mil mulheres acolhidas.

Diversos tipos de equipamentos municipais oferecem atendimento, alguns de maneira sigilosa.

Os abrigos que não têm o endereço divulgado por questões de segurança oferecem acolhimento para mulheres, acompanhadas ou não de seus filhos, em situação de risco de morte, ameaças em razão da violência doméstica e familiar ou que sofreram algum tipo de violência física, sexual, psicológica e/ou moral.

Tiê faz show para mulheres vítimas de violência doméstica na Zona Leste. 'A música tem esse lugar de colo', disse a cantora. — Foto: Celso Tavares/g1

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